Regulador europeu voltou a subir as taxas diretoras em 25 pontos base, dando gás à subida da Euribor até ao patamar dos 4%. Fonte: Idealista News
As previsões do mercado cumpriram-se. O Banco Central Europeu (BCE) decidiu voltar a subir as taxas de juro diretoras em 25 pontos base esta quinta-feira, dia 15 de junho. Depois desta nova subida, a oitava consecutiva, o preço do dinheiro na Zona Euro atingiu os 4%, o valor mais elevado desde setembro de 2008. Este novo aperto das taxas de juro diretoras deverá voltar a estimular a subida das taxas Euribor e, por conseguinte, o aumento das prestações da casa, quer para os créditos habitação novos, quer para os existentes. E não deverá ser a última subida dos juros diretores pelo BCE.
A política monetária do BCE para fazer baixar a inflação na Zona Euro continua a seguir o caminho previsto com este novo aumento das taxas de juro em 25 pontos base. Isto porque, “embora a inflação tenha vindo a descer, as projeções indicam que permanecerá demasiado elevada durante demasiado tempo”, justificou o Conselho do BCE em comunicado.
“É muito provável continuar a aumentar as taxas em julho”, diz Christine Lagarde, presidente do BCE
E, por isso mesmo, o regulador europeu não deverá ficar por aqui. A própria presidente do BCE, Christine Lagarde, admitiu que “é muito provável continuar a aumentar as taxas em julho”. E os especialistas de mercado apontam que esse aumento deverá ser novamente na ordem dos 25 pontos, o que elevará a principal taxa de refinancimento para os 4,25%. Para já, Lagarde descarta fazer uma pausa na política restritiva do BCE, uma decisão que já foi tomada pela Reserva Federal dos EUA.
Apesar de o regulador europeu estar a optar por subida os juros diretores a um ritmo mais lento, esta nova restrição da política monetária vai continuar a impactar a carteira das famílias. A verdade é que esta nova subida das taxas de juro diretoras vai continuar a dar gás à Euribor, levando a que as taxas subam para o patamar dos 4% – hoje então nos 3%. Em resultado, este cenário continuará a dificultar o acesso ao crédito habitação, a incentivar a amortização antecipada dos empréstimos, bem como as renegociações dos créditos. E tem ainda efeitos na oferta dos bancos para atrair clientes.
- Juros do BCE deverão subir ainda mais – e não vão cair até 2024
- Euribor deverá manter-se estável no patamar dos 4%
- Como é que novo aperto dos juros influencia o crédito habitação?
- As próximas reuniões do BCE
Juros do BCE deverão subir ainda mais – e não vão cair até 2024
Na conferência de imprensa que se seguiu à reunião de política monetária, Christine Lagarde avisou que “é muito provável” haver uma nova subida das taxas de juro na próxima reunião agendada para o dia 27 de julho, recusando a ideia de que o banco central irá avançar com uma pausa na subida dos juros – pelo menos, para já. Esta é, de resto, uma visão partilhada pelos vários especialistas de mercado ouvidos pelo idealista/news.
As decisões do regulador liderado por Christine Lagarde quanto ao rumo da sua política são tomadas de reunião em reunião consoante os dados económicos que chegam ao Conselho do BCE, em particular o da inflação na Zona Euro, que se situou em 6,1% em maio (a inflação subjacente fixou-se em 5,3%). “A inflação não vai resolver-se sozinha, portanto, (…) o BCE tem de continuar a aumentar as taxas de juro nos próximos meses, pelo menos até que a inflação subjacente desacelere”, aponta o economista e professor de finanças Miguel Córdoba.
Por esse motivo, Raymond Torres, diretor do departamento de economia da espanhola Funcas, considera que “o BCE vai continuar a subir as taxas até julho, embora o que acontecerá depois seja incerto”. Também Gilles Moëc, economista-chefe da AXA Investment, concorda que haverá um novo aumento do preço de dinheiro na reunião de julho, quanto as taxas de juro podem atingir o seu pico.
O economista Miguel Córdoba acredita que as taxas de juro do BCE deverão oscilar entre 4% e 4,5% na segunda metade de 2023 e, depois, deverão estabilizar se a inflação e os preços dos alimentos diminuírem. Isto porque, além do BCE ter de se preocupar em baixar a inflação até ao patamar dos 2%, também tem de ter em conta a diferença existente entre os juros aplicados na Europa e nos EUA (que estão entre 5% e 5,25%), uma vez que “influencia decisivamente a valorização do dólar face ao euro, encarecendo a fatura europeia do petróleo e do gás, quando se paga em dólares”, explica.
Também Raymond Torres acredita que o BCE deverá fazer uma pausa na subida dos juros este verão – à semelhança do que fez o Fed nos EUA esta quarta-feira – para “acomodar o impacto no crédito a empresas e famílias e ainda o arrefecimento da procura, conseguindo, assim, conciliar o seu objetivo de travar a inflação, com o de garantir a estabilidade financeira da Zona Euro e evitar que a economia descarrile”.https://datawrapper.dwcdn.net/A0GPP/1/
E quais são as previsões para 2024? Tudo vai depender de como evoluírem os dados económicos e financeiros – bem como a guerra na Ucrânia. Se a inflação na Zona Euro continuar a descer (sobretudo a subjacente), “é possível que as taxas de juros caiam em 2024 para entre 3% e 3,5%, o que apontaria o caminho para que em 2025 e 2026 estejamos em torno de 2%, o objetivo do BCE”, aponta Miguel Córdoba. A queda dos juros diretores em 2024 é uma previsão partilhada por vários economistas, inclusive do BBVA e do Bank of America, estando sobretudo apontada para o arranque do segundo semestre do próximo ano.
Euribor deverá manter-se estável no patamar dos 4%
Tal como se tem observado até agora, as taxas Euribor andam de braço dado com a evolução dos juros diretores do BCE. E, por isso mesmo, esta nova subida das taxas de juro diretoras deverá continuar a dar gás à subida das taxas Euribor nos próximos meses, encarecendo ainda mais os créditos habitação de taxa variável.
Hoje, as taxas Euribor diárias a 3, 6 e 12 meses continuam no patamar dos 3%. Mas estão a aproximar-se cada vez mais dos 4%. E a perspetiva dos especialistas de mercado é que as taxas Euribor cheguem aos 4% e que permaneçam estáveis neste patamar durante este ano, bem como no próximo. A espanhola Funcas admite que a média anual da Euribor a 12 meses se situe nos 4,25% em 2023 e em 4% em 2024. E o BBVA Research não descarta a hipótese da Euribor a 12 meses chegar a 4,5% nos próximos meses.
Com a Euribor rumo aos 4%, uma coisa é cerTa: as prestações da casa dos créditos habitação de taxa variável vão continuar a subir (quer nos novos contratos, quer nos existentes). Para perceber qual é a dimensão desta subida, os especialistas do idealista/créditohabitação prepararam uma simulação tendo por base um novo empréstimo habitação de 150.000 euros, com spread de 1% e prazo de 30 anos.https://datawrapper.dwcdn.net/XIAW4/1/
Olhando para as prestações da casa dos contratos assinados com a Euribor estimada a 4% e comparando-os com os créditos habitação assinados em junho de 2023 (que usam a média de Euribor de maio), observa-se que:
- Crédito habitação com Euribor a 12 meses: neste caso quem contratar um empréstimo com a taxa a 4% vai pagar mais 13 euros de prestação (805 euros/mensais) durante o primeiro ano, do que quem se antecipou e assinou o contrato em junho (792 euros por mês).
- Crédito habitação com Euribor a 6 meses: aqui quem contratar um empréstimo nestas condições com a Euribor prevista a 4% vai pagar mais 29 euros durante os primeiros 6 meses face a quem contratou em junho (776 euros).
Se compararmos com os créditos habitação assinados há um ano (junho de 2022), a diferença de prestações da casa com a Euribor a 4% é superior a 300 euros em ambos os casos, revelam ainda as simulações.
Mas até onde pode subir a Euribor? Sobre este ponto, Miguel Cabrita, responsável pelo idealista/créditohabitação em Portugal, afirma que “especular sobre o futuro da Euribor e seu teto máximo é arriscado, porque tudo dependerá da evolução da inflação e do possível impacto dos aumentos de taxas no crescimento económico e no emprego”. No entanto, confessa que “não podemos esquecer que historicamente a inflação é difícil de conter e que temos visto taxas superiores às atuais”.https://datawrapper.dwcdn.net/d0shr/2/
Como é que novo aperto dos juros influencia o crédito habitação?
A nova subida das taxas de juro diretoras colocou a taxa de refinanciamento nos 4%, o nível mais elevado desde setembro de 2008. E tudo isto vai enfatizar as consequências já visíveis do encarecimento do financiamento bancário no espaço europeu, bem como em Portugal.
- Mais dificuldades em aceder ao crédito habitação
A subida dos juros em Portugal – país onde a esmagadora maioria dos créditos são de taxa variável – já está a arrefecer a procura dos empréstimos para comprar casa. Aliás, o Banco de Portugal (BdP) não tem dúvidas que “o nível geral das taxas de juro contribuiu fortemente para reduzir a procura de empréstimos à habitação”. E esta tendência que deverá continuar com o novo encarecimento do financiamento bancário, a par dos elevados preços das casas no país.
“O aumento do custo da Euribor já está a ter um impacto muito forte no volume de crédito habitação concedido, afetando sobretudo as famílias de rendimentos mais baixos, que têm sido ‘expulsos’ do mercado por incapacidade de fazer face à nova prestação do crédito habitação”, frisa Miguel Cabrita.
Em concreto, o montante total de empréstimos para habitação era de 99,6 mil milhões de euros no final de abril, menos 0,1 mil milhões do que no final de março. Este decréscimo tem sido visível desde dezembro de 2022, mostram os dados mais recentes do regulador português.https://datawrapper.dwcdn.net/Hie7t/1/
- Mais amortizações antecipadas do crédito habitação
A subida das taxas de juro no mercado hipotecário está a provocar um outro movimento em Portugal: as amortizações antecipadas do crédito habitação (totais e parciais) dispararam no início de 2023 e permanecem em patamares superiores a 2022.
A ideia das famílias passa por usar as poupanças na amortização da dívida ao banco de forma a poupar nos juros e a baixar as prestações da casa. No caso das amortizações totais, as famílias ficam livres da dívida à banca.
Os dados mais recentes do BdP, indicam que as os reembolsos antecipados de crédito habitação própria permanente passaram para 0,59% do stock de empréstimos em abril deste ano (0,44% total e 0,14% parcial). Este valor representa uma diminuição face a março (0,77%), mas continua a ser bem superior aos valores registados em 2022.
Importa não esquecer que uma medida do Governo português para apoiar as famílias que estão a pagar prestações da casa mais caras por via da subida dos juros passa precisamente por eliminar as comissões e impostos associados à amortização do crédito habitação de taxa variável. A medida vai estar em vigor até ao final de 2023.https://datawrapper.dwcdn.net/x4XUn/1/
- Mais mudanças na oferta de crédito habitação (taxas mistas em destaque)
Com os juros dos créditos habitação a subir a pique, há também cada vez mais famílias a procurar soluções juntos dos bancos para reduzir as prestações da casa. Como? Ou renegociando as condições do empréstimo (por via do spread, por exemplo), segundo as novas regras introduzidas pelo Governo português. Ou até procurando mudar de taxa variável para taxa fixa ou mista.
É o que diz o responsável pelo idealista/créditohabitação em Portugal: “Vamos continuar a ver muitas mudanças de crédito habitação de taxa variável para taxa fixa ou mista, renegociando com seu próprio banco ou mudando de banco na procura de uma taxa mais baixa e segura”. Caso as famílias estejam a pensar mudar de taxa variável para uma taxa fixa ou mista, Miguel Cabrita considera que “é fundamental obter propostas personalizadas de diferentes bancos e compará-las”, até porque esta mudança depende sempre da situação e da perspetiva individual de cada pessoa.
Em Portugal, a taxa mista nos novos créditos habitação tem ganhado novos adeptos nos últimos meses, passando a representar 16,1% do montante total concedido em abril de 2023. Esta é uma opção que permite diversificar o risco, uma vez que a prestação da casa fica fixa nos primeiros anos do contrato, passando depois a variável.
Em termos de oferta de taxas mistas, as famílias contam também com mais diversidade no mercado. Isto porque, segundo responsável pelo idealista/créditohabitação em Portugal, “os bancos estão agora numa encruzilhada, pressionados pela maior amortização antecipada de crédito habitação e pela luta pela captação de clientes num mercado onde os novos empréstimos habitação reduziram significativamente. Certamente continuaremos a ver ofertas agressivas de diferentes bancos, especialmente em taxas mistas com prazo fixo curto, entre 3 e 5 anos”, acredita Miguel Cabrita.https://datawrapper.dwcdn.net/yuwaV/2/
As próximas reuniões do BCE
O Conselho do BCE reúne-se aproximadamente de seis em seis semanas. Este é o calendário das próximas reuniões do guardião do euro em que vai anunciar a evolução das taxas de juro diretoras e os próximo capítulos da sua política monetária:
- 27 de julho de 2023
- 14 de setembro de 2023
- 26 de outubro de 2023
- 14 de dezembro de 2023
- 25 de janeiro de 2024
- 7 de março de 2024
- 11 de abril de 2024
- 6 de junho de 2024
- 18 de julho de 2024
- 12 de setembro de 2024