O líder da April, a maior mediadora de seguros em Portugal, garante que a inflação não impede de conseguir mais proteção e melhor preço nos seguros de Vida ligado ao crédito à habitação. Fonte: ECOSeguros
AApril Portugal, empresa que pertence à maior distribuidora de seguros de França, tornou-se líder de mercado nacional entre as mediadoras apostando forte em seguros de Vida ligados ao crédito à habitação. Com esta estratégia contrariou a tendência natural dos empréstimos para compra de habitação serem mais fáceis de concretizar utilizando as seguradoras recomendadas pelos bancos que emprestam.
Em ano de inflação e altas taxas de juro, com reflexos no rendimento disponível das famílias, também devido ao aumento das mensalidades de crédito à habitação, interessa saber o que pensa a April, especialista neste segmento. Depois de experiências como auditor na Deloitte e de gestão na Global, Açoreana e CNP Barclays, Sérgio Nunes lidera a April em Portugal desde 2015.
Como está a atividade este ano e o que espera em 2023?
A performance da April Portugal no decorrer de 2022 é bastante positiva, sendo desde já possível estimar um crescimento de dois dígitos no EBITDA do ano. Esta evolução está diretamente relacionada com o nosso produto core, o Vida Crédito April, cujo desenvolvimento foi impulsionado pelo crescente awareness dos consumidores à possibilidade de melhorar o seu nível de proteção e poupança, sendo esta tomada de conhecimento da população indissociável do excelente trabalho efetuado pelas redes de mediação em Portugal.
Em 2023 iremos dar continuidade ao nosso plano estratégico, aprovado pela estrutura de acionistas, e cujos pilares de desenvolvimento refletem os objetivos e visão do grupo, consubstanciado na proximidade com a mediação e reforço da prestação de serviços à rede, bem como no desenvolvimento técnico de produtos, processo e equipas, procurando otimizar os fluxos de decisão/subscrição automática em conformidade com as melhores práticas de mercado.
Num momento de conjuntura adversa, como a atual, o seguro de Vida Crédito ligado ao crédito à habitação vai manter-se a referência da April?
O Seguro de Vida ligado ao crédito à habitação é, e continuará a ser, o nosso produto core. O ramo vida risco, em Portugal, representa aproximadamente 15% do mercado segurador nacional (excluindo seguros de poupança e unit links). Ou seja, a par do ramo automóvel, saúde e acidentes de trabalho, é um ramo estruturante para o setor em Portugal, sendo a sua dimensão fortemente influenciada pelo Vida Crédito, situação indissociável da representatividade do crédito habitação no nosso país.
Atualmente, em razão do excelente trabalho efetuado pela mediação, observamos, como já referi, um crescente awareness da população para a importância de uma melhor proteção Vida Crédito, situação que origina uma heterogeneidade significativa no perfil dos clientes que nos procuram.
Colocam os seguros em França na Axeria Prevoyance. Não há seguradoras em Portugal a oferecer as condições da Axeria? Porquê o interesse de uma seguradora francesa? Não há resistência dos bancos e dos segurados a colocar seguros fora de Portugal?
A April inicia a sua atividade em Portugal em 2008, na altura da criação de legislação nacional favorável ao consumidor, a qual induziu a criação de um mercado aberto nos seguros vinculados ao crédito fora da bancasseguros. Assim, a April foi pioneira na distribuição do Seguro Vida Crédito em Portugal, sendo, nessa altura, um dos poucos players ativos.
Nos últimos anos temos assistido a um forte desenvolvimento do mercado nacional de Vida Crédito em que, em paralelo com a entrada de novos players, se observa um significativo aperfeiçoamento dos processos digitais de subscrição e, simultaneamente, da tipologia da oferta, com uma melhoria das coberturas disponibilizadas e uma redução significativa do preço.
Assim, considerando o que referi, podemos resumir afirmando que a APRIL Portugal e a Axeria Prevoyance são pioneiras no mercado vida crédito em Portugal, com base no know how importado da sua casa mãe, tendo, durante estes 14 anos de atividade no nosso país, adquirido o reconhecimento do mercado, nomeadamente consumidores, mediação e entidades independentes, as quais têm atribuído ao nosso produto os mais elevados indicadores de qualidade.
O aumento dos encargos com os créditos à habitação para as famílias é uma oportunidade ou uma ameaça para a April?
Uma conjuntura de inflação e subida de taxas de juro induz diversos cenários de risco que nunca são positivos para o desenvolvimento de uma indústria. Considerando que um dos drivers do produto vida crédito é a poupança, podemos identificar oportunidades de negócio, mas consideramos que esta é uma visão de curto prazo, nomeadamente porque a sustentabilidade do crédito, e o seu crescimento, são fatores estruturantes no mercado em que trabalhamos.
Não obstante, conscientes da função social do seguro, nós, e, acreditamos, os restantes atores do mercado, serão veículos que irão possibilitar atenuar os impactos da perda de rendimento disponível das famílias portuguesas.
Como podem reagir os clientes ao aumento de tarifas?
Não obstante o aumento dos custos de aquisição e gestão em resultado da inflação, acreditamos que não vamos observar no curto prazo um cenário de aumento de tarifas, nomeadamente pela inexistência de uma correlação direta entre a inflação e o aumento do custo com sinistros de vida risco. Sem minimizar, no médio prazo, o aumento da frequência de sinistros em cenários de degradação dos níveis de vida, acreditamos, com base nos dados de hoje, que este cenário não irá ser observado.
Pensam apostar noutros ramos ou segmentos para além de Vida Risco e acidentes?
Para além da nossa oferta para a rede de mediação, com seguros de vida risco e acidentes, a April Portugal desenvolve também a sua atividade na customização de ofertas de seguros para entidades de grande dimensão, concatenando as necessidades específicas dos seus clientes com as principais tendências desenvolvidas pelo Grupo April e pelos nossos risk carriers a nível mundial.
Os canais de distribuição têm sido mediadores? Procuram que sejam cativos ou independentes?
A mediação independente sempre foi, e será, o nosso principal canal de distribuição. Acreditamos na importância de uma mediação profissional, que conjuga um elevado know how técnico com a proximidade ao consumidor, sendo, assim, capaz de efetuar uma adequada análise dos riscos específicos dos clientes e de propor os produtos que mais se adequam às suas necessidades.
As seguradoras portuguesas não dão resposta satisfatória às solicitações da mediação quer em aceitação de riscos, quer em preço?
Temos observado uma significativa evolução no mercado vida crédito nos últimos anos, fruto do aumento da concorrência, a qual induziu a melhoria dos processos de subscrição e gestão de riscos, mas também o aperfeiçoamento das coberturas, procurando-se uma melhor proteção para os consumidores ao melhor preço. Acreditamos na importância de trabalhar em conjunto com a nossa rede de mediação, para, assim, capacitar os mediadores, que trabalham connosco, com melhores meios para a satisfação das necessidades de proteção dos seus clientes.
Como está o convívio com outros canais de distribuição? Nomeadamente com os bancos?
Diria que o mercado funciona de forma normal, complementando-se ofertas mais rígidas com uma maior flexibilidade e apetite pelo risco do mercado fora da bancasseguros. Trabalhamos, também, com instituições financeiras, que obviamente não têm acordos de distribuição exclusivos, sendo a nossa política a não diferenciação de preço por canais.
A mudança de propriedade da casa-mãe na sede em França para a KKR traz alguma mudança para o negócio geral ou para as ambições portuguesas?
Nas alterações da estrutura acionista, a April passa de um grupo maioritariamente detido por uma holding familiar, a Evolem (do nosso fundador Bruno Rousset), para a propriedade da CVC e, agora, para a KKR, uma das maiores entidades mundiais de private equity.
As duas transações são representativas do valor do grupo, envolvendo a primeira um montante superior a mil milhões de euros e, num cenário de instabilidade económica, inflação e subida das taxas de juros, congratulamo-nos pela valorização superior a 2 mil milhões de euros atribuída pela KKR.
As duas transações têm uma característica comum, de que muito nos orgulhamos, e que se consubstancia numa valorização económica baseada na continuidade do modelo de negócio masterbroker, que caracteriza o grupo desde a sua fundação, bem como na independência e continuidade do projeto e marca do grupo e, naturalmente, na confiança demonstrada no plano de negócio apresentado pela gestão.